CAPÍTULO 8
A segunda
multiplicação de pães (1-9). Podemos notar que a primeira é narrada por todos
os quatro evangelistas; a segunda só por Mateus e Marcos. Marcos acrescenta as
palavras “alguns deles vieram de longe” (v.3).
“Note-se,
entre outras coisas: que Jesus quis ocupar seus discípulos com as necessidades
materiais do povo; que Ele sentia ‘compaixão’ pela multidão faminta; que seus
discípulos pouco tinham aprendido com o milagre anterior, embora fosse no mesmo
lugar e nas mesmas condições; que Jesus nos deu o exemplo de dar graças antes
de comer (o apóstolo Paulo fez a mesma coisa, na presença de descrentes – At 27.35);
que o alimento era suficiente para todos comerem bem (v.8)
“Decápolis
era a região que ficava ao sul e sudeste do lago de Tiberíades, e continha as
dez cidades que deram o nome ao distrito (Decápolis significa dez cidades)”.
“Depois de
alimentados os 5000, levantaram-se doze cestos de pedaços, e depois dos 4000,
sete cestos. A palavra traduzida ‘cestos’ não é a mesma. Os 4000 deixaram sete ‘spuridas’
e os 5000 doze ‘Kofinon’. Estes eram cestos de mão, aqueles (os sete) grandes
balaios suficientes para conter um homem. Paulo foi arriado pelo muro em um
deles (At 9.25)”.
Duas vezes
Jesus alimentou a multidão e ambas as vezes em circunstâncias semelhantes e da
mesma maneira. Em ambas as narrativas há gente com fome, um lugar deserto,
discípulos perplexos, mantimentos escassos, a ordem de sentarem-se, ações de
graças, festa, sobra, e despedida. O contraste é entre um dia e três dias, 5000
e 4000, cinco pães e dois peixes, sete pães e alguns peixes, doze cestos e sete
balaios.
“Quão pouco
progresso os discípulos tinham feito no entendimento! As poderosas intervenções
dos tempos passados fogem-lhes à memória. Cada nova dificuldade parece-lhes
invencível; cada nova necessidade os leva a supor que as maravilhas da graça
divina se esgotaram (Trench). Porventura somos também assim? Ou a nossa passada
experiência de Deus ajuda-nos a enfrentar as novas situações com coragem e
confiança? Posso acreditar que Cristo tenha visto nestes dois milagres uma
figura da iminente paixão. Ele era o pão partido para satisfazer a fome do
mundo. O leitor já tomou parte na festa?” (Scroggie).
Pedindo
sinais. As partes de Dalmanuta (10-21). Supõe-se que Dalmanuta era uma vila a
leste do mar da Galiléia e perto de Magdala.
Devemos
comparar este trecho com Mateus 16.1-4 para saber que Jesus se referia aos
sinais dos tempos em resposta ao pedido malicioso dos fariseus. O fermento dos
fariseus e de Herodes (15). Há males progressivos que permeiam tudo em redor.
Por isso Jesus emprega a figura do fermento: um princípio ativo que, em pouco
tempo, leveda toda a massa.
O fermento
dos fariseus era a hipocrisia: uma religiosidade exterior e inútil. O dos
herodianos era o mundanismo; a política. O dos Saduceus (Mt 16.6). a
incredulidade e materialismo. Todos os três são males que se alastram,
corrompendo a massa toda.
Neste pequeno
discurso com os discípulos Jesus faz-lhes dez perguntas e obtêm duas respostas.
A cura de
um cego de Betsaida. (22-26). Existe uma dúvida sobre se a Betsaida da Bíblia é
a mesma Betsaida- Júlias ao norte do mar da Galiléia, ou outro lugar do mesmo
nome a leste (perto deste lago), de Corazim e Cafarnaum (Mt 11.21,23; Jo
12.21).
Este
milagre é narrado só por Marcos. É uma das poucas curas demoradas que Jesus
fez. O primeiro contato do Homem com Cristo não teve resultado completo.
Conosco pode dar-se coisa semelhante.
Devemos
notar o empenho, a simpatia e o trabalho de Jesus com este cego, tomando-o pela
mão e levando-o para fora da aldeia. Tantas vezes Ele curava com uma palavra,
mas agora se ocupa com um serviço prolongado.
Podemos
entendes que Deus dispõe de tempo para atender às nossas necessidades.
“Vemos
Cristo acomodando o ‘posso’ do seu poder à debilidade da fé do cego... Foi
curado lentamente porque creu lentamente. A sua fé era condição da sua cura, e
a medida dessa fé determinava a medida da sua restauração”(Maclaren).
“Aqui são
narrados sete atos do Senhor. 1) Tomou o cego pela mão, isso para levá-lo fora
da aldeia. Podemos aprender disto que, para sermos verdadeiros iluminados,
devemos submeter-nos a ser guiados. Por seu Espírito, Cristo nos guiará em toda
a verdade. 2) Levou-o para fora da vila, como se tivesse dito “saí do meio
deles e apartai-vos, e não toqueis coisa imunda (2Co 6.17). A separação é
necessária para que haja gozo espiritual. 3) Cuspiu nos seus olhos. Tem havido
várias explicações disto. Talvez fosse “como processo medicinal, não eficaz em
si, mas feito eficaz por energia divina”(Weiss). Vemos o emprego do cuspe em (Marcos
7.33 e João 9.6-14).
Impôs-lhes
as mãos, um símbolo de comunhão e comunicação de saúde e poder, aqui um ato de
compaixão divina. 5) Perguntou se via alguma coisa, mas o homem enxergava mal
ainda. 6) Impôs-lhe as mãos outra vez. 7)Mandou-o levantar os olhos” (Goodman).
No
versículo 26 leia-se “Não entres na aldeia, nem o digas a ninguém na aldeia”.
(C.C. 273).
A confissão
de Pedro (27-33). Já consideramos este incidente no nosso estudo de Mateus 16.
Observamos Jesus ocupado em despertar a compreensão dos discípulos a respeito
dele mesmo. Para um judeu piedoso o reconhecimento de Jesus como messias
prometido era de suma importância. Alguém pode interrogar a qualquer um de nós
sobre o que Jesus significa para nós, e como responderíamos? Este incidente é
relatado mais detalhadamente em Mateus 16.13-23.
Jesus
prediz a sua morte (31). Para os discípulos parecia tão incompreensível que
Pedro o repreendeu. Devemos notar que Jesus faz a predição da sua morte depois
de convencer os discípulos da divindade dele. Se tivessem conservado na sua
memória essa sublime verdade, não teriam ficados tão desanimados pela sua
morte.
Neste
trecho temos: 1) A confissão. 2) A repreensão. 3) A advertência.
1) A
confissão. Antes de ouvirmos a confissão de Pedro vamos notar alguns pareceres
errados referentes a Cristo, pareceres que lhe atribuem algum bem, mas não
acertam com a verdade.
Que dizem
hoje de Cristo? Um homem bom, exemplo perfeito, mártir inocente, mas a verdade
é outra: Ele é o Salvador único e divino. A confissão de Pedro importava em:
a)
cumprimento de profecia (Dt 18.15, etc.);
b)
propósito divino (Cristo significa ungido);
c) verdade
reservada (v.30);
d) a
esperança do mundo.
2) A
repreensão. Pedro que repreende, é repreendido. Notemos em Pedro:
a) pouca
prudência;
b) falta de
discernimento;
c) coragem
mal-empregada;
d) falta de
respeito.
3 A
advertência de Jesus aos discípulos ensina-lhes:
a) o que é
necessário para seguir a Cristo;
b) que o
amor de Deus deve ser o supremo motivo;
c) Que
perder a vida pode ser lucro, e ganhar o mundo, prejuízo;
d) que o
homem pode “resgatar” a sua alma (psyche: vida ou alma);
e) que
envergonhar-se agora de Cristo terá consequências tristes no porvir.
Levando a
própria cruz (34-38). Para entendermos o ensino de Jesus a respeito devemos
notar que esse ensino segue a predição da sua morte. É como se dissesse: “Este
mundo não somente matará a mim, mas vós também não deveis esperar outra sorte,
se fordes fiéis em seguir meu exemplo e ensino”. (Veja-se porém sobre Mateus
16.24-28).
“Negar-se a
si mesmo”. Quando Pedro negou seu Senhor, ele disse: “Não conheço esse homem”.
Quem puder falar assim a seu próprio respeito sabe o que significa negar-se a
si mesmo. É muito natural pensar: “O que, então, será de mim?” É muito
espiritual pensar; “Como servirá isso à vontade do meu Senhor?”.
Notemos que
a palavra grega psyche nos versículos 35-37, traduzida por Almeida duas vezes “vida”
e duas vezes “alma”, é sempre “vida” na V.B.
Devemos
pensar o que significa “perder” a nossa vida. Uma vida perdida é uma vida não
aproveitada com vantagem. Uma vida preocupada com vícios, prazeres, interesses
materiais, e glórias humanas, é perdida.
Contudo, o
mundo julga “perdida” (35) uma vida dedicada a Deus.
O Senhor Jesus
considera o caso de alguém ganhar “o mundo todo” – ter infinito lucro material –
e contudo não ter uma vida abundante, transbordando da bênção divina.
A mais real
satisfação na vida não está em adquirir, mas em criar, e, contudo, vemos a
maioria empenhada em adquirir – um empenho que nunca satisfaz.
Não é
possível reaver uma vida perdida (v.37).
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